.
INTRODUÇÃO
Trabalhar
com criança pequena requer uma programação voltada para auxiliar ao desenvolvimento
natural da mesma. E um período de grandes descobertas e evoluções. A criança
descobre os objetos, o espaço, começa a andar, a falar entre tantas outras
descobertas. Tem inicio a descoberta de si mesma e de sua autonomia, ou seja,
inicia-se a construção da identidade. sendo um processo contínuo de crescimento
biopsicossocial, o trabalho voltado para auxiliar a formação da identidade da
criança deve ser proposto sem julgamentos, voltado para a exploração positiva
de suas características físicas, afetivas e cognitivas. A descoberta do Eu
sou... dentro de um contexto de vivencia coletiva.
Com
o objetivo de propor vivencias que atendam as necessidades das crianças nesta
fase e auxiliem em seu desenvolvimento foi elaborado o Projeto Eu sou...,
desenvolvido com crianças de 2 a 3 anos.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
A
proposta de trabalho sugerida tem como base teórica estudos realizados sobre o
desenvolvimento da criança e o trabalho em Instituições de Educação Infantil e
as vivencias que devem fazer parte nesta fase.
Bassedas, Huguet e Solé em Aprender e Ensinar
Na Educação Infantil afirmam que:
“As
experiências que as crianças vivenciam no decorrer dos anos, em todos os
contextos (família, escola, entre amigos e amigas), fazem com que elas
interiorizem uma imagem e um conhecimento de si mesmas... e ao mesmo tempo,
adquiram uma valorização do próprio conceito que é transmitido por pessoas
significativas em sua relação diária. Isso representa a autoestima. Uma das características propostas pela criação e
educação é que a criança desenvolva uma autoestima adequada (adaptada às
próprias características, com importantes doses de valorização positiva, de
confiança nas próprias possibilidades, com conhecimento das dificuldades,
etc.), já que essa dimensão da identidade pessoal facilita a saúde mental, o
êxito escolar e a possibilidade de estabelecer relações socioconstrutivas.”
O
referencial Curricular Nacional Para e Educação Infantil, V. 2 propõe que a
criança tenha oportunidades de conhecer a si mesma através do conhecimento do
seu corpo e das relações sociais que estabelece.
Sendo
tão pequena, vivendo em um mundo tão próprio e cheio de descobertas e ao mesmo
tempo em um mundo real e social onde seu espaço e todos os objetos são de uso
coletivo cabe à Instituição promover vivencias para que a criança desenvolva
sua identidade e autonomia. Assim diz o RFNEI, v.2, p.11:
“Saber
o que é estável e o que é circunstancial em sua pessoa, conhecer suas
características e potencialidades e reconhecer seus limites é central para o
desenvolvimento da identidade e conquista da autonomia.”
Considerando
os estudos realizados, entendemos como objetivo central deste trabalho as
vivencias das quais as crianças participam, onde todas tenham oportunidades de
se verem, se observarem, perceberem suas características físicas, falarem do
que gostam ou não, brincarem com seu corpo movimentando-o livremente e
percebendo seus limites e principalmente suas capacidades. Valorizando a
individualidade e o respeito ao outro sem que as características diferentes sejam
objeto de julgamentos de valor, e sim reconhecidas como o outro é...
Relato
da Prática
O
RFNEI propõe como objetivos para o trabalho na educação infantil com crianças
de zero a três anos no desenvolvimento de sua identidade e autonomia:
RCNEI,
v.3:
p.27
·
Familiarizar-se com a imagem do próprio
corpo;
·
Explorar as possibilidades de gestos e ritmos
corporais para expressar-se nas brincadeiras e nas demais situações de
interação;
p.30
·
Reconhecimento progressivo de segmentos e
elementos do próprio corpo por meio da exploração, das brincadeiras, do uso do
espelho e da interação com os outros;
Com estes objetivos em mente e na busca por um
ensino de qualidade é que buscamos
propor vivencias onde as crianças se olhem, percebam as possibilidades de
expressar-se oralmente e por seus movimentos, descubram suas características
físicas, seus desejos e potencialidades. A proposta vem como atividades e
brincadeiras sem a pretensão de orientar todos os passos da criança. Feita a
proposta permite-se que a criança reaja livremente a elas com a observação.
O trabalho começa com a
confecção do crachá com a foto e o nome da criança e dos locais dos seus
pertences identificados com nomes e fotos.
Com os crachás fazemos a
chamada com dinâmicas onde a criança localiza a sua foto entre todas, pega um
crachá , diz o nome de quem é e entrega para o colega que for identificado.
Cantamos a musica cuja letra
é “quem chegou ao CEI aqui foi---------, quem ficou muito feliz foi a turma”; a
medida que cantamos uma caixa com espelho dentro é aberta e a criança vê sua
imagem refletida.
Em parceria com os pais, a
história de seus nomes é contada e sua foto de bebê junto com familiares é
exposta em painéis na sala.
Na roda cantamos músicas que
exploram seus nomes e as partes do corpo.
Realizamos atividades e
brincadeiras que exploram os movimentos corporais e os membros do corpo como:
·
Pintura do rosto olhando-se no espelho e
auto-retrato do rosto.
·
Ginástica facial;
·
Brincando com as sombras onde as crianças
movimentam-se e observam-se através das mesmas.
·
Danças;
·
Identificando a si mesmo e os colegas através
da fotografia de parte do corpo.
·
Desenho do corpo e pintura dos mesmos.
As atividades listadas são algumas das
diversas atividades propostas para o desenvolvimento do projeto e embora bem
conhecidas, propomos variações para que
as crianças se divirtam e aprendam a se conhecer e também aos seus colegas de
forma positiva.
Durante
o processo observamos como as crianças se desenvolvem e aprendem sobre si,
aceitando e gostando de si mesmas sem julgamento de valor, pois a sua imagem é
a SUA imagem e é única e valorosa.
Observamos
que uma das crianças, geralmente recusa fazer as atividades mantendo-se mais
afastada dos colegas, dentro de seu brincar particular. No entanto ao ver sua
sombra explorou diversos movimentos com os braços, com todo o seu corpo e com
um lindo sorriso nos lábios. Outra criança também explorou o seu brincar
fazendo uso de objetos.
Na
proposta de identificar-se pela foto de parte do corpo algumas crianças
mostraram uma capacidade de observação fantástica ao identificar-se e aos
colegas pelo corpo e pertences pessoais.
Crianças
que recusam olhar seu reflexo no espelho no inicio do ano se observam com um sorriso nos lábios após
algum tempo.
Observar
estas mudanças positivas no comportamento das crianças em relação a si e as
descobertas que fazem de suas potencialidades tornando-se mais autônomas e
seguras é certamente um privilégio de quem pode participar de um processo
único, pois apesar do coletivo social em que vivemos, este coletivo é composto
por seres únicos, com potenciais fantásticos e no inicio da grande descoberta
de sua identidade.
Considerações
finais
A
criança é movimento, é exploração, é descoberta constante. Propor brincadeiras
e vivencias onde a criança brinque e tenha a oportunidade de enriquecer o
desenvolvimento da identidade de forma positiva é fundamental para que ela torne-se uma
pessoa saudável, autônoma emocional, intelectual e moralmente. Uma pessoa capaz
de modificar-se e também ao ambiente em que vive.
Bibliografia
BASSEDAS, Eulália. Aprender
e Ensinar na Educação Infantil/ Eulália Bassedas, Teresa Huguet &
Isabel Solé. Trad. Cristina Maria de Oliveira. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
1999.
BRASIL. Ministério da Educação.Referêncial Curricular Nacional Para a Educação Infantil.Brasília:
MEC/SEF/Coedi. v 1, 2 e 3, 1998.
Autora:
Márcia Cristina Cuzzuol Vieira da Costa
Pedagoga Especialista em Educação Infantil - atualmente trabalha como professora em uma creche municipal de São Paulo.