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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Emoção e o Desenvolvimento das Capacidades Expressivas


Por Liliana Stadnik 

Wallon (1975) considera que a função principal das emoções encontra-se no desenvolvimento das capacidades expressivas, no estudo do não-verbal, nas posturas sinais, como as mímicas dos bebês que chamaram sua atenção. Neste sentido, renovou as teorias da emoção e da motricidade, pois considera a função tônica a mais arcaica atividade muscular do homem.
Para Galvão (2000) Wallon atribui muitas significações ao 
ato motor. Além do seu papel na relação com o mundo físico (motricidade de realização), o movimento tem um papel fundamental na afetividade e também na cognição. Um dos traços originais desta perspectiva teórica consiste na ênfase que dá à motricidade expressiva, isto é, à dimensão afetiva do movimento[...] (Galvão, 2000, p. 69)
Na teoria walloniana o movimento, antes de agir no meio 
físico, atua sobre o meio humano, mobilizando as pessoas através das emoções, principalmente na primeira fase. Podemos dizer que o movimento é o testemunho da vida psíquica antes da fala, da palavra, pelo nível ex pressivo que proporciona. Wallon (1995) explica que a primeira função do movimento no desenvolvimento infantil é afetivo, onde a criança recorre aos gestos e posturas para completar a expressão, uma vez que o gesto precede a linguagem verbal. 
Buhler (apud Wallon, 1995, p.141) afirma que: “[...] o sorriso é de fonte puramente humana e que só se produz em presença de um rosto”, portanto, há necessidade da troca como aceitação e aprovação do outro.
O tônus, além de um estado tenso e necessário à execução da contração muscular, é também atitude e postura. A partir disto, o autor identifica duas funções, a cinética e a tônica, como atividades musculares fundamentais, sendo a primeira “cinética”, responsável pelos movimentos visíveis dos músculos que servem a postura, e a “tônica”, responsável pelos músculos parados na posição assumida 
pelo sujeito, isto é, pela atitude e pela mímica. A função tônica não é uma função estática, ela varia de acordo com a carga emocional  ou do movimento. [...] “A atividade tônica é a matéria de que são feitas as emoções. Esta atividade é produto da relação imediata do movimento e da sensibilidade” (Wallon, 1999, p.14). O papel do tônus 
estabelece critérios para classificação sendo: emoções hipotônicas que reduzem o tônus e emoções hipertônicas geradoras do tônus. 
Destas situações, podemos perceber e distinguir o caráter penoso e o prazeroso das situações vivenciadas pelos sujeitos.
Outro aspecto a ser abordado é a imitação e a representação 
que revelam as origens motoras do ato mental, sendo que este é projetado nos atos motores. Mais uma vez observa-se uma totalidade humana, ou seja, todos os aspectos do desenvolvimento estão interligados, agindo e influenciando no outro. A medida que a dimensão cognitiva do movimento aumenta, a criança começa a agir sobre a realidade exterior, aumentando também sua autonomia, 
o que, consequentemente, diminui a sua dependência do adulto.
A emoção, portanto está intimamente ligada ao movimento do ser humano (atividade próprioplástica), devido ao seu caráter de plasticidade corporal. De acordo com Wallon (1986), exteriorizando as alterações emocionais o ser humano torna-se visível ao outro.
As emoções podem ser consideradas, sem dúvida, como origem da consciência, visto que exprimem e fixam para o próprio sujeito, através do jogo de atitudes determinadas, certas disposições específicas de sua sensibilidade. Porém, elas só serão o ponto de partida da consciência pessoal do sujeito por intermédio do grupo, no qual elas começam por fundi-lo e do qual receberá as fórmulas diferenciadas de ação e os instrumentos intelectuais, sem os quais lhe seria impossível efetuar as distinções e as classificações necessárias ao conhecimento das coisas e de si mesmo.(Wallon, 1995, p.64).
As atitudes e posturas entre adultos e crianças é o que vai 
modelando seus primeiros modos de expressão: de bem estar, de mal estar, de necessidades, formando atitudes que constituem as emoções, consideradas uma forma de linguagem na atividade muscular. As relações que o adulto-professor e a criança-aluno vivenciam no cotidiano da escola poderão, pois, suscitar atenção, principalmente no que se refere a competência do adulto-professor em se apropriar deste tipo de conhecimento que poderá favorecer a reflexão sobre o seu ser e fazer cotidianamente.
A psicogenética walloniana identifica alguns campos que 
concentram a diversidade das funções psíquicas; são campos funcionais onde a afetividade, a inteligência e o ato motor se distribuem nas atividades infantis que de princípio são pouco diferenciados e aos poucos vão adquirindo independência. A distinção entre o eu e o outro somente ocorre de forma progressiva e através das interações sociais. 
O autor esclarece que a construção do eu corporal, por exemplo, acontece pelas interações com os objetos e com seu próprio corpo, pois os bebês não diferenciam-se de outros objetos. Através da interação destes com o meio, pela convivência e descobertas, vão se apropriando do conhecimento e de si mesmos. Se, por um lado, a formação do eu corporal é tão importante para a construção da personalidade da criança, por outro, é condição para a construção do eu psíquico, pois, neste período, a criança encontra-se num estado de sociabilidade sincrética, misturando a sua personalidade a dos outros, sendo que a criança não consegue ver de forma autônoma a personalidade das outras pessoas. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 WALLON, H. Alternâncias funcionais. A evolução psicológica da criança. 
Lisboa/Portugal: edições 70, 1995. 
______. Origens do caráter da criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.
______. Origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole,1989.
______.. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa,1975.
WEREBE & NADEL-BRULFERT (org.) Wallon. São Paulo: Ática, 1999.

http://www.direcionaleducador.com.br/edicao-18-jul/06

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Abordagem Psicopedagógica da História Bíblica de Davi e Golias

Objetivo: Assim como no conto, a história bíblica de Davi e Golias pode:
  •  contribuir com a aprendizagem;
  • apresentar a partida, a luta, o castigo, uma ajuda (Deus) e uma questão de justiça quando o gigante é derrotado;
  • possibilitar as projeções;
  • trabalhar a criança com problema de rejeição;
  • reportar à rivalidade fraterna, pois os irmãos tinham ciúmes do que Davi fazia, do que era e do que seria no futuro (rei de Israel).
Davi: 
  • possibilidade de representar o filho que apresenta o sintoma-aprendizagem com denúncia da cadeia familiar;
  • pode representar o filho solitário, que vivia afastado da família;
  • pode representar o filho que escolhe formas diferentes de lidar com o problema, sem ser através da agressividade ou da dificuldade de aprendizagem;
  • pode representar o filho obediente que acata a ordem dos adultos, representando as crianças "ditas normais", mas que escondem seus sintomas dentro dessa normalidade;
  • possibilidade de representar o filho que causa ciúmes nos irmãos, o menosprezado pela família (o pai não via nele grande valor, além de ser o filho mais novo, pois na época o primogênito era o mais valorizado, o que tinha mais direitos);
Sacrifício: 
  • pode representar o começo da solução dos problemas.
Fogo: 
  • pode representar a purificação, ou seja, o início do tratamento.
Ovelhas:
  • podem representar a obediência às regras;
  • pode representar as crianças que seguem as normas para aprender, as crianças que precisam ser passivas - sem questionar;
  • pode representar as crianças superprotegidas.
Animais ferozes:
  • podem representar os pequenos medos que uma criança tem em seu inconsciente e que ela tenta derrotar em determinadas circunstâncias.
Música - harpa:
  • pode representar a diferença - Davi era diferente da família;
  • pode representar um mecanismo de defesa que seu ego usou para se defender das ameaças;
  • pode representar a fuga, uma forma de sublimar os problemas;
  • pode ser um sinal de produtividade;
  • pode ser um meio de encontrar a si próprio ou de auxiliar o outro (o som de sua harpa ajudava o rei Saul a transformar o seu espírito diante dos conflitos).
Funda:
  • pode representar o instrumento em que uma criança encontra para resolver os problemas - reação.
Cajado:
  • dentro da abordagem psicopedagógica, pode representar um instrumento que uma pessoa utiliza para guiar-se, um apoio para resgatar-se e manter-se dentro dos padrões;
  • pode representar o psicopedagogo, a escola, a família, o superego que poderá ajudar uma pessoa a libertar-se dos problemas.
Natureza:
  • pode ser o transmissor, a fonte, em que uma pessoa vai adquirir o conhecimento.
Profeta Samuel:
  • pode representar a escola ou o terapêuta que lembra à família do problema.
Óleo:
  • pode representar o começo do tratamento. O começo de uma nova vida, o começo da mudança.
O pai pede ao filho para levar o alimento:
  • pode ser o corte que ele faz para que o filho desenvolva a autonomia para assim originar o Supereu.
Alimento:
  • pode representar o conhecimento, o meio para a solução dos problemas.
Saul:
  • pode representar as pessoas que recuam diante dos problemas, as que tem medo de enfrentar os "gigantes da vida".
Exército de Israel:
  • pode representar os enfraquecidos, os desanimados, os que tentaram vencer os problemas, os que não tiveram coragem de enfrentá-lo.
  • pode representar a pessoa com baixa autoestima.
Armadura:
  •  podemos atribuir às crianças incapazes de aprender segundo a visão da escola. O que dá certo para uma pessoa, não significa que dará certo com a outra.
  • pode representar a pessoa que quer ser ela mesma, ou seja, que luta confiante em si mesma, que consegue vencer os problemas sem se esquivar.
  • aprisionamento do ser pensante, aprendente, autor.
Penhasco:
  • pode representar o processo ensino-aprendizagem, a trajetória que tem altos e baixos, que exige esforços e que pode ou não ser superados;
  • pode, também, representar as barreiras (inconscientes) que uma pessoa com dificuldade de aprendizagem coloca diante de si para não resolver seus traumas, por medo e insegurança.
Decisão de Davi:
  • pode representar o momento em que a pessoa faz emergir a agressividade positiva necessária para resolver seus conflitos a fim de adquirir a aprendizagem;
  • pode representar o momento em que ela decide, tem o desejo, ela faz, constroi.
Rio:
  • pode representar a fonte do conhecimento;
  • o caminho do reencontro com o conhecimento, com a autoria do conhecimento.
Cinco pedrinhas:
  • pode representar o meio final em que a pessoa encontrou para resolver os problemas que inconscientemente resultaram numa fratura na aprendizagem, que é um objeto totalmente valorizado;
  • pode representar os cinco sentidos como sendo as janelas da aprendizagem:
     - visão: viu o problema, o gigante, com olhar forte e confiante diante de si mesmo. Manteve seu olhar em Deus. (como eu vejo os problemas)
       - audição: ouviu a voz do gigante, o grito da vitória, o som da harpa. (como eu escuto os problemas)
     - tato: tocou na harpa, nos animais, na funda, nas pedrinhas, sentiu a brisa suave do rio... (como eu lido com o problema)
        - paladar: sentiu o sabor dos alimentos. (como sinto o sabor da vitória, do sucesso)
        - olfato: sentiu o aroma agradável do campo, o cheiro das ovelhas. (como percebo o problema, sua solução)
Gigante:
  • pode representar o medo, a angústia, a intimidação, a figura de um adulto (pais, professor,...) que age como se soubesse de tudo.
De acordo com Gillig, p. 79, os personagens temíveis não são mais que projeções imaginárias dos fantasmas que a criança traz consigo: medo de ser abandonada pelos pais, medo de ser devorada, medo da rivalidade fraterna. Na p. 73, ele faz uma abordagem da relação dissimétrica anão/gigante, referindo-se ao termo fantasma como sendo aquele de todos os Davis que desejam vencer Golias, assim como acredita que isso é o que se passa no conto, com certeza ocorrerá também com as histórias bíblicas, continua: pelo imaginário do eterno confronto do homem contra as forças obscuras e irracionais que o contrariam em busca do absoluto e que arriscam aniquilá-lo.
  • pode representar a criança face a face com seu problema. Ela precisa da agressividade positiva para vencer, solucionar o problema.
Armadura do gigante:
  • pode representar algo invencível.
Derrota do gigante:
  • na prepotência de Golias houve um pequeno e fatal deslize, tirou o capacete deixando a fronte exposta (a fronte é a área do cérebro responsável pelas sanções, regras e decisões; pode-se referir como sendo símbolo da inteligência).
  • o impacto da pedra na testa do gigante e a sua derrota pode significar o momento em que uma pessoa supera o problema e se dá a alta.
Premiação: ser rei
  • pode representar o amadurecimento, o crescimento, a vitória por ter vencido o gigante.
Castração de Davi:
  • deixou o pastoreio para viver a vida no palácio, ou seja, deixou a fantasia para viver a realidade.
Davi é um personagem que passou por dificuldades, mas buscou em Deus a ajuda, o que considerava realmente importante.
Como nos contos, a história bíblica de Davi e Golias teve um final feliz e isso é o que atrai as crianças. Davi soube superar os desafios que apareceram, acreditou em seus sonhos e se manteve fiel aos seus ideais. Muitas pessoas com problemas persistem nos mesmos porque não tem mais sonhos, nem perspectiva, objetivo de vida. 
A missão do psicopedagogo e do arteterapeuta é ajudar seus pacientes a terem um encontro consigo mesma com o fim de superar os "gigantes da vida". É importante a participação da família durante todo o processo.

Bibliografia

Bíblia Sagrada, tradutor, João Ferreira de Almeida. Revista        e atualizada no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

GILLIG, Jean-Marie, O Conto na Psicopedagogia. Porto  Alegre: Artmed, 1999.

SWINDOLL, Charles R., Davi, um homem segundo o coração de DEus. São Paulo: Mundo Cristão, 1998.

WHITE, Ellen G., Patriarcas e Profetas. São Paulo: CPB, 1993.


<a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR"><img alt="Licença Creative Commons" style="border-width:0" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/3.0/88x31.png" /></a><br /><span xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/" property="dct:title">Abordagem Psicopedagógica da História Bíblica de Davi e Golias</span> de <a xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#" href="http://espacocognoarte.blogspot.com.br/" property="cc:attributionName" rel="cc:attributionURL">Rosilene Fatima Vieira Lopes</a> é licenciado sob uma <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR">Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada</a>.<br />Baseado no trabalho em <a xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/" href="http://espacocognoarte.blogspot.com.br/" rel="dct:source">http://espacocognoarte.blogspot.com.br/</a>.







sábado, 18 de agosto de 2012

Histórias bíblicas na aprendizagem



 | Por Charlotte Fermum Lessa
Qual é a criança que não gosta de ouvir histórias? Desde Chapeuzinho vermelho até Pinóquio, o imaginário das crianças recebe farta alimentação. Meninos gostam especialmente dos super-heróis, buscando neles algo que gostariam de viver na realidade.

REFLEXÃO

Lanço aqui algumas questões que certamente já passaram pela cabeça de muitos professores. Meditando eu mesma nelas, encontrei algumas respostas, com as quais você pode concordar ou não. Ei-las:

1. Sendo que os contos de fadas e as histórias fictícias costumam fazer parte do dia a dia dos nossos alunos, que proveito podemos tirar desses contos e histórias, como professores, em sala de aula?

Um dos principais objetivos dos contos de fadas dentro dos saberes da psicologia é justamente detectar os conflitos que geram angústia na criança. E, conforme Sara Paín (1996), a fantasia serve para produzir o desejo a partir do impossível. Na sala de aula, portanto, o professor tem objetivos específicos ao usar os contos de fadas.

2. Qual é, então, o objetivo da abordagem pedagógica dos contos de fadas?

Sara Paín afirma que “a máquina de fabricar pensamentos cognitivos é completamente distinta da máquina de fabricar pensamentos simbólicos ou dramáticos. É distinta porque são distintos os mecanismos, são distintas as operações e são distintos os resultados, ou seja, as categorias que os produzem” (1996, p. 25). Note como a psicóloga argentina didatiza esse conceito:

 PENSAMENTO   CONHECIMENTO   DESEJO  
 Inconsciente Realidade Fantasia  
 Objetividade Subjetividade  
 Possível Impossível
 Mecanismos Mecanismos
 Assimilação Projeção
 Acomodação Identificação
 Circularidade Repetição
 Inibição Repressão
 Esquemas sensório-motores   Esquemas
 Representação  
 Afeto
 Operações lógicas Operações retóricas  
 Classificação Metáfora
 Seriação (ou sequência)     Metonímia
 Consciente Categorias Categorias
 Objeto Ego
 Tempo Superego
 Espaço Id
 Causalidade
 Número    


Essas são, segundo a autora, as "estruturas do conhecimento e do desejo". O professor, apesar de estar relacionado com a motivação para o desejo de aprender, não entra nas questões mais profundas da subjetividade da criança, como o faria uma psicóloga ou psicopedagoga. Assim sendo, se o conto usado em sala de aula cumpre a função de motivar para o desejo de aprender, o professor está cumprindo seu papel.


(Imagem: JoCard)
3. Existem outros meios, que não sejam histórias fictícias, para motivar o desejo de aprender?

As histórias bíblicas são excelentes substitutos. Como exemplo, vamos citar a história de Davi, que apresenta uma riqueza de aspectos conscientes e inconscientes, tanto dentro da estrutura da construção do conhecimento quanto da do desejo. (Estamos nos atendo aos aspectos da motivação para a aprendizagem; portanto, não vamos focalizar o aspecto espiritual neste momento.) Quanto à estrutura da construção do desejo, vamos apenas delinear alguns possíveis aspectos do impossível no enfoque da história de Davi. (Para acompanhar o pensamento, veja 1 Samuel 16 e 17.)

ANÁLISE DA HISTÓRIA DE DAVI

Pensamento inconsciente

1. Conhecimento


“A objetividade instaura a realidade, isto é, aquilo que nós consideramos real, que está fora de nós, cujas leis não podemos modificar. Podemos repensar, mas não podemos anular essas leis” (PAÍN, 1996, p. 21).

1.1 Realidade

Objetividade 

  • Família de um fazendeiro (Jessé) que tinha oito filhos.
  • Davi era o caçula.
  • Davi era o responsável pelo cuidado das ovelhas do pai.

Possível

  • Davi continuar cuidando das ovelhas enquanto um dos irmãos mais velhos era escolhido para ser o rei de Israel.
  • Davi ser considerado pelo pai incompetente e imaturo para o cargo.
  • Davi ser alvo da inveja dos irmãos.

1.2 Mecanismos

Assimilação

  • Como pastor de ovelhas, Davi tem que enfrentar as intempéries, o medo, a solidão, o trabalho duro (conformando-se com seu papel).
  • Como músico, Davi tem que tocar harpa a fim de acalmar o rei. (Assim, entra em contato com a corte e conhece a vida nesse meio.)

Acomodação

  • Davi desenvolve iniciativa, liderança, confiança em Deus, coragem, pontaria, música e poesia.
  • Davi aprende a se portar como nobre muito antes de se tornar rei.
  • Davi aprende a ser guerreiro muito antes de entrar para o exército do rei.

Circularidade

Suas entradas e saídas do palácio real ajudam Davi a entrar em contato com o simples e comum e novamente com o complexo e sofisticado. Isso o prepara para escolher seu próprio estilo.

Inibição

A princípio, Davi ainda não sabe como agir no novo ambiente. Está tímido e receoso. (Com o tempo vai percebendo qual a conduta mais adequada e o que deve evitar. Vai adquirindo confiança, o que o faz se sentir mais seguro.)

Esquemas sensório-motores
Davi tem tempo de admirar as belezas da natureza, compor hinos em sua harpa, treinar pontaria com sua funda e usar o corpo, a agilidade e a força física para enfrentar situações de perigo.


(Imagem: JoCard)
1.3 Operações lógicas

Classificação

Davi escolheu entre coragem e medo, ousadia e covardia, confiança e incredulidade, povo de Deus e incircuncisos, fé e presunção, mal e bem.

Seriação

Passos dados por Davi: 

1. Pesquisou o ambiente da batalha.
2. Ofereceu-se para salvar a honra de Israel.
3. Recordou o cuidado de Deus por ele nos pastos de seu pai.
4. Recusou a armadura do rei, que atrapalharia seus movimentos.
5. Pegou suas próprias armas: o cajado, a funda, cinco pedras lisas do riacho e o alforje, onde pôs as pedras.
6. Aproximou-se do gigante.
7. Engrandeceu o poder de Deus.
8. Manteve o foco, percebeu o descuido e atirou a pedra em direção ao único lugar desprotegido do filisteu: a testa.
9. Derrubado o gigante, imediatamente correu para cima dele e decepou-lhe a cabeça.

2. Desejo

“O subjetivo se instaura na irregularidade, se constitui na esfera do desejo e é o que nos diferencia como pessoa singular. O desejo é algo que falta; não existe na realidade. Para que haja desejo tem de haver falta. Assim, o desejo se instaura em uma irrealidade. A realidade não é somente a realidade deste momento, mas também a realidade do que é possível. Portanto, o pensamento é o pensamento do que eu projeto como possível, dentro da realidade. Na ordem do desejo, ao contrário, o que se pensa é o impossível" (PAÍN, 1996, p. 21).

2.1 Fantasia

Impossível

O caçula ser escolhido por Deus para ser o próximo rei de Israel.
Um simples pastor de ovelhas adolescente ser chamado para cantar para o rei.
Um garoto de 17 anos vencer um urso e um leão.
Um garoto derrotar um gigante amedrontador.

II. Pensamento consciente


“Os mecanismos e as operações servem para criar categorias de pensamento. As categorias do pensamento objetivo são: objeto, tempo, espaço, causalidade, número” (PAÍN, 1996, p. 54). 

1. Conhecimento

1.1 Categorias

Objeto

Derrotar o filisteu, confiando no poder de Deus. Davi sabia o que queria.

Tempo

Davi rejeitou a armadura real, que atrapalhava sua movimentação, o que o faria perder tempo e o foco, e foi ágil no uso da funda. Percebeu exatamente o momento de lançar a pedra.

Espaço

Davi calculou exatamente uma distância segura para evitar risco desnecessário e, ao mesmo tempo, acertar o alvo – a testa do gigante.

Causalidade

Davi não se conduziu impulsivamente. Sabia por que estava lá: tinha consciência de que não poderia permitir que aquele filisteu afrontasse a honra de Deus. Tinha uma percepção global da realidade e só avançou depois de traçar estratégias baseado na hipótese de que sua experiência o ajudaria.

Número

Calculou a possibilidade de erro. Pegou cinco pedras no ribeiro que o separava do inimigo. Acertou na primeira tentativa.


(Imagem: JoCard)
CONCLUSÃO

Pudemos ter uma noção dos atos inconscientes e conscientes de Davi, os quais o levaram ao sucesso. Como tudo isso se relaciona com o desejo de aprender?

1. Davi aceitou sua realidade.
2. Davi passou pelos duros processos da aquisição do conhecimento.
3. No momento da demanda, Davi desejou o impossível.

Quando uma criança não sente desejo de aprender, algo está errado. O professor, ao contar histórias como as de Davi, pode mostrar a ela que é possível atingir o impossível (aprender), se ela desejar realmente, como Davi desejou. Isso não precisa ser dito explicitamente. A criança acabará inferindo por si mesma. Peça sabedoria "a Deus, que a todos dá liberalmente” (Tiago 1:5, RA).

ATIVIDADES SUGERIDAS

Estas atividades devem ser feitas sem que se explique sua intenção, com a participação de todos os membros da classe, inclusive da(s) criança(s) que se quer(em) recuperar. 

1. Dramatização

Dramatizar as partes que mais se encaixam no perfil inseguro da criança. O aspecto da objetividade pode trazer à tona a subjetividade, trazendo seus conflitos à consciência, o que ajudará a criança a lidar com eles. 

Depois da dramatização, formar um círculo pedindo que cada criança fale sobre como se sentiu durante o processo. A devolutiva do professor deve ser concisa e sutil, jamais expondo a criança em questão, sempre falando ao grupo.
Tempo da dramatização: 10 ou 15 minutos no máximo.

Tempo da dinâmica: 40 minutos ou mais, para que todos possam falar.
O professor deve fazer anotações referentes às participações, principalmente das crianças com problemas, e depois encaminhá-las para a psicóloga da escola ou psicopedagoga.

2. Desenho

Depois de contar a história, pedir que as crianças façam um desenho daquilo que mais as impressionou. Pedir que elas falem sobre o desenho e expliquem porque aquele aspecto as impressionou. (Valorizar o que cada criança diz, mesmo que seja muito pouco.) 
Os detalhes mais significativos devem ser anotados e encaminhados sigilosamente para a psicóloga escolar ou psicopedagoga.

3. História escrita ou recontada 

Depois de contar a história, pedir que as crianças a recontem, escrevendo-a. Caso a criança não consiga escrever, pedir que ela se aproxime e conte sua versão só para o professor ouvir. 

Os detalhes mais significativos devem ser anotados e encaminhados sigilosamente para a psicóloga escolar ou psicopedagoga.

OUTRAS HISTÓRIAS BÍBLICAS

Outras histórias próprias para esse fim são as de Sansão, José e Daniel. Todas apresentam a aprendizagem e a superação como algo desejável além de situações impossíveis. 

Boa sorte e até nosso próximo encontro!

Referência bibliográfica
PAÍN, Sara. Subjetividade/objetividade – relações entre desejo e conhecimento. São Paulo: Cevec, 1996.

Artigo reproduzido do site: http://www.educacaoadventista.org.br

sábado, 11 de agosto de 2012

Reflexões...

Olhar...
Focar...
Perceber...
Penetrar...
Sentir...
Trocar...
Descobrir...
Mostrar...

no movimento de cada parte do nosso corpo janelas são abertas e um universo infinito se abre diante de nós.
Se abrem as janelas do olhar o novo e o velho, o diferente, o peculiar, o inesperado, o repentino, o espetacular, o simples e o complexo...
janelas em que se pode focar nos grandes feitos e também nos pequenos detalhes...
janelas do se perceber e janelas de se perceber no outro...
janelas que nos permitem penetrar onde se quer mostrar ou onde não queremos nos mostrar...
janelas que nos permitem sentir uma gama de emoções e nos reconhecer ou conhecer o outro em cada uma delas...
janelas nas quais nos permitimos nos mostrar e sermos vistos tal como verdadeiramente somos!!!!!!!!
E para que todas estas janelas se abram é necessário apenas que em algum lugar, alguém se permita olhar e ser olhado, tocar e ser tocado, ver e ser visto, ler o outro ou ser uma leitura do outro.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Arteterapia na Escola

Na busca de uma aprendizagem significativa, a Arteterapia torna-se um maravilhoso canal de prevenção e intervenção para se trabalhar com as dificuldades de aprendizagem. Ao manusear o material o aluno vivência novas maneiras de lidar com as situações que se repetem no dia a dia, estimulando a sensibilidade e agindo como um instrumento de estruturação do indivíduo na busca de soluções para seus conflitos. Através de experiências libertadoras o aluno pode desatar seus "nós", melhorar sua autoestima, proporcionar sua inclusão social no contexto escolar e acadêmico. Nas escolas de Ensino Fundamental, a grade curricular contempla cada série com duas aulas semanais de Arte. Infelizmente, o conteúdo trabalhado e o material utilizado ao longo do ano letivo, estão longe do que é proposto pelo PCN e do que se pode desenvolver junto aos alunos. As aulas de Arte podem se tornar um grande aliado dos educadores para se alcançar uma aprendizagem mais plena e significativa, reduzindo assim, o número de crianças encaminhadas para especialistas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Código de Ética do Psicopedagogo



Reformulado pelo Conselho da ABPp, gestão 2011/2013 e aprovado em Assembleia
Geral em 5/11/2011
O Código de Ética tem o propósito de estabelecer parâmetros e
orientar os profissionais da Psicopedagogia brasileira quanto aos
princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional,
estabelecendo diretrizes para o exercício da Psicopedagogia e para os
relacionamentos internos e externos à ABPp – Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
A revisão do Código de Ética é prevista para que se mantenha
atualizado com as expectativas da classe profissional e da sociedade.
Capítulo I – Dos princípios
            Artigo 1º
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde
que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a
família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando
procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais
teóricos.
 Parágrafo 1º
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do
conhecimento, relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter
indissociável entre os processos de aprendizagem e as suas dificuldades.
Parágrafo 2º
A intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em
diferentes âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter indissociável
entre o institucional e o clínico.
             Artigo 2º
A Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza
métodos, instrumentos e recursos próprios para compreensão do
processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção.
             Artigo 3º
A atividade psicopedagógica tem como objetivos:
a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de
inclusão escolar e social;
b) compreender e propor ações frente às dificuldades de
aprendizagem;
c) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia;
d) mediar conflitos relacionados aos processos de
aprendizagem.
              Artigo 4º
O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e
elaborar a organização, a implantação e a execução de projetos de
Educação e Saúde no que concerne às questões psicopedagógicas.
Capítulo II – Da formação
             Artigo 5º
A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou
em curso de pós-graduação – especialização “lato sensu” em
Psicopedagogia -, ministrados em estabelecimentos de ensino
devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos competentes, de
acordo com a legislação em vigor.Capítulo III – Do exercício das atividades psicopedagógicas
             Artigo 6º
Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os
profissionais graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia –
especialização “lato sensu” - e os profissionais com direitos adquiridos
anteriormente à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela
ABPp. É indispensável ao psicopedagogo submeter-se à supervisão
psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal.
Parágrafo 1º
O psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus
serviços, deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp e
os princípios deste Código de Ética.
Parágrafo 2º
Os honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou
seus responsáveis legais e o profissional, a fim de que:
a) representem justa contribuição pelos serviços prestados,
considerando condições socioeconômicas da região,
natureza da assistência prestada e tempo despendido;
b) assegurem a qualidade dos serviços prestados.
              Artigo 7º
O psicopedagogo está obrigado a respeitar o sigilo profissional,
protegendo a confidencialidade dos dados obtidos em decorrência do
exercício de sua atividade e não revelando fatos que possam
comprometer a  intimidade das pessoas, grupos e instituições sob seu
atendimento.
Parágrafo 1º
Não se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a
especialistas e/ou instituições, comprometidos com o atendido e/ou com
o atendimento.
Parágrafo 2º
O psicopedagogo não revelará como testemunha, fatos de que
tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja
intimado a depor perante autoridade judicial.
             Artigo 8º
Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros
interessados, mediante concordância do próprio avaliado ou de seu
representante legal.
               Artigo 9º
Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos cujo
acesso não será franqueado a pessoas estranhas ao caso.
              Artigo 10
O psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com
os componentes de diferentes categorias profissionais, observando para
esse fim, o seguinte:
a) trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são reservadas;
b) reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de
especialização, encaminhando-os a profissionais habilitados e
qualificados para o atendimento.
Capítulo IV – Das responsabilidades
               Artigo 11
São deveres do psicopedagogo:a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e
técnicos que tratem da aprendizagem humana;
b) desenvolver e manter relações profissionais pautadas pelo respeito,
pela atitude crítica e pela cooperação com outros profissionais;
c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e nos
parâmetros da competência psicopedagógica;
d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer definição clara
do seu parecer ao cliente e/ou aos seus responsáveis por meio de
documento pertinente;
f) preservar a identidade do cliente nos relatos e discussões feitos a
título de exemplos e estudos de casos;
g) manter o respeito e a dignidade na relação profissional para a
harmonia da classe e a manutenção do conceito público.
Capítulo V – Dos instrumentos
            Artigo 12
São instrumentos da Psicopedagogia aqueles que servem ao seu objeto
de estudo – a aprendizagem.  Sua escolha decorrerá de formação
profissional e competência técnica, sendo vetado o uso de procedimentos,
técnicas e recursos não reconhecidos como psicopedagógicos.
Capítulo VI – Das publicações científicas
            Artigo 13
Na publicação de trabalhos científicos deverão ser observadas as
seguintes normas:
a) as discordâncias ou críticas deverão ser dirigidas à matéria em
discussão e não ao seu autor;
b) em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual
ênfase aos autores e seguir normas científicas vigentes de
publicação. Em nenhum caso o psicopedagogo se valerá da posição
hierárquica para fazer publicar, em seu nome exclusivo, trabalhos
executados sob sua orientação;
c) em todo trabalho científico devem ser indicadas as referências
bibliográficas utilizadas, bem como esclarecidas as ideias,
descobertas e as ilustrações extraídas de cada autor, de acordo
com normas e técnicas científicas vigentes.
Capítulo VII – Da publicidade profissional
         Artigo 14
Ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-
lo com exatidão e honestidade.
Capítulo VIII- Dos honorários
           Artigo 15
O psicopedagogo, ao fixar seus honorários, deverá considerar como
parâmetros básicos as condições socioeconômicas da região, a natureza
da assistência prestada e o tempo despendido.
Capítulo IX – Da observância e cumprimento do Código de Ética
             Artigo 16
Cabe ao psicopedagogo cumprir este Código de Ética.
Parágrafo único
Constitui infração ética:
a) utilizar títulos acadêmicos e/ou de especialista que não possua;
b) permitir que pessoas não habilitadas realizem práticas
psicopedagógicas;
c) fazer falsas declarações sobre quaisquer situações da prática
psicopedagógica;
d) encaminhar ou desviar, por qualquer meio, cliente para si;
e) receber ou exigir remuneração, comissão ou vantagem por serviços
psicopedagógicos que não tenha efetivamente realizado;
f) assinar qualquer procedimento psicopedagógico realizado por
terceiros, ou solicitar que outros profissionais assinem seus
procedimentos.
           Artigo 17
Cabe ao Conselho Nacional da ABPp zelar, orientar  pela fiel
observância dos princípios éticos da classe e advertir infrações se
necessário.
           Artigo 18
O presente Código de Ética poderá ser alterado por proposta do
Conselho Nacional da ABPp,  devendo ser aprovado em Assembleia Geral.
Capítulo X – Das disposições gerais
            Artigo 19
O Código de Ética tem seu cumprimento recomendado pelos
Conselhos Nacional e Estaduais da ABPp.
O presente Código de Ética foi elaborado pelo Conselho Nacional da
ABPp do biênio 1991/1992,  reformulado pelo Conselho Nacional do
biênio 1995/1996 , passa por nova reformulação feita pelas Comissões de
Ética triênios 2008/2010 e  2011/2013,  submetida para discussão e
aprovado em Assembleia Geral em 05 de novembro de 2011.
Quézia Bombonatto                                                                                
Presidente do Conselho Nacional da ABPp                                                        
Presidente Nacional da ABPp                                                                            
Gestão 2008/2010 e2011/2013

Regulamentação para Psicopedagogo


Extraído de: Câmara dos Deputados  - 30 de Dezembro de 2008

Trabalho aprova regulamentação para psicopedagogo

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A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou, no último dia 17, o Projeto de Lei 3512/08 , da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), que regulamenta a atividade profissional do psicopedagogo. Pela proposta, a profissão poderá ser exercida pelo portador de diploma de graduação em Psicopedagogia, pelo diplomado em Psicologia ou Pedagogia e pelo licenciado que tiver concluído curso de especialização em Psicopedagogia. A especialização deverá ter duração mínima de 600 horas e carga horária de 80% na especialidade.
A comissão também aprovou duas emendas apresentadas pela relatora, deputada Gorete Pereira (PR-CE). Uma das emendas autoriza o Executivo a criar um órgão fiscalizador do exercício da profissão. "Deve ser lembrado que os dispositivos relacionados a infrações e penas somente são eficazes se houver esse órgão responsável", disse a relatora.
A outra emenda estabelece o dever de sigilo profissional, ou seja, o psicopedagogo deverá manter sigilo sobre os fatos de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua atividade. Ele poderá compartilhar essas informações com outros profissionais envolvidos no atendimento do cliente, desde que também sujeitos a sigilo profissional. O desrespeito a essas normas configura infração disciplinar grave.
A relatora informou que a inclusão do sigilo profissional foi uma sugestão de representantes da própria categoria.
Atribuições
Entre as atribuições do psicopedagogo estão a intervenção para a solução dos problemas de aprendizagem; a utilização de métodos, técnicas e instrumentos que tenham por finalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com a aprendizagem; e o apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais.
Pelo projeto, o portador de diploma superior de outra especialidade que já estiver exercendo ou tiver exercido atividades profissionais de psicopedagogia, em entidade pública ou privada, terá preservado o direito a esse exercício profissional.
Tramitação
O projeto tramita em caráter conclusivo e seguirá para a análise da Comissão deConstituição e Justiça e de Cidadania.
Autor: Agência Câmara

Extraído de: Câmara dos Deputados  - 30 de Dezembro de 2008

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pintura como processo terapêutico

Hoje tive a oportunidade de reler um texto de Edna Chagas Christo e Graça Maria Dias da Silva em seu livro "Criatividade em Arteterapia" sobre a como a pintura pode atuar no processo arteterapêutico. É uma técnica que possibilita o exercício de olhar de diferentes maneiras para si mesmo. "Existem muitos obstáculos a serem vencidos, mas um deles talvez seja o principal:"eu não sei..." Ao longo da vida vamos recebendo "nãos", vamos dando a nós mesmos esses "nãos", e vamos limitando nossa flexibilidade, nossa autonomia, nossa coragem, nossa criatividade, nossa confiança no mundo e, sobretudo, em nós mesmos. Pintar é um convite a dizer "sim...", "eu posso...", "eu quero ...", "vale a pena tentar...", é ter a ousadia de perguntar "e por que não?..""...Quando a pintura flui, amiúde o mesmo ocorre com a emoção".

terça-feira, 3 de abril de 2012

Reflexões: Aprendência

"Fazer-se um ser aprendente é unir a cigarra e a formiga dentro do
homem, cantar enquanto se constrói a casa do conhecimento,
cimentar-se a realidade com a argila do sonho.

Fazer-se um ser aprendente é encher a hora de vida, a vida de
sentido, o sentido de palavras e as palavras de alegria, a alegria que é
a matéria-prima do sonho.

Fazer-se um ser aprendente é não esconder o sol dentro da alma,
nem a palavra calada." (Paulo R. do Carmo e Vilmar F. de Souza,
2000).

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Linguagem Simbólica dos Contos e das Histórias Bíblicas

“A história contada é como o vaso de argila
que traz no seu corpo a marca da mão que
o modelou; e é essa marca que torna possível,
completo, mostrando-o não apenas como um
objeto, mas também como o fruto de um desejo.”
Márcia Siqueira de Andrade



O universo infantil está cercado de inúmeras histórias e contos que são utilizadas para encantar, para ensinar, para transformar e também como instrumento terapêutico num processo de cura e desenvolvimento pessoal.
Cada uma dessas histórias e estórias possue em seu enredo situações que são vivenciadas no cotidiano e podem ou não ser elaboradas de forma positiva, gerando conflitos e angústias naquele que as vivencia.
Este trabalho aborda as interpretações dos contos de fada e das histórias bíblicas numa visão psicanalítica e busca analisar as relações simbólicas existentes em seu contexto que são fundamentais para sua utilização num processo terapêutico e arteterapêutico.
Para Rasga (2007), os contos de maneira geral, apresentam apenas o que é essencial numa narrativa concentrada; apresentam poucos personagens, fatos, lugar e tempo limitados. Dentre os contos encontram-se os textos maravilhosos nos quais o imaginário mistura-se ao real. Pode-se classificar as narrativas maravilhosas em:
• Contos de fada – são de origem celta e em seu enredo trazem o encantamento e/ou metamorfose (fadas, bruxas, animais falantes); para auto-realizarem-se seus heróis precisam superar obstaculos ou provas; tratam de problemáticas ligadas ao existencial. Podem conter ou não a presença de fadas.
• Contos maravilhosos – surgiram de narrativas orientais e abordam temas que enfocam os aspectos sociais; os heróis e heroínas alcançam a auto-realização na conquista de bens materiais; mostra a luta pela sobrevivência e a miséria dos personagens principais. Não contém fadas para auxiliar o protagonista.
Para Rocha (2007), as semelhanças existentes entre eles estão no fato de que, ambos os textos, apresentam obstáculos, viagens, sonhos/metas, algo ou alguém como mediador e a conquista com o final feliz. Além de servirem como meio de entretenimento, são utilizados para transmitirem valores morais e costumes e como instrumentos terapêuticos.


3.1 – Os Contos de Fada

Um dos primeiros a desenvolver estudos sobre a importância dos Contos de Fada no desenvolvimento psíquico da criança foi Jung. Para ele as associações estão ligadas as experiências armazenadas no inconsciente. (ALT, 2000).
Alguns seguidores de Freud acreditam que as lutas e os conflitos do conto de fada estão basicamente enraizadas nas questões edipianas, são puramente de ordem sexual e por isso as interpretações seguem as fases da sexualidade infantil: fase oral, fase anal e fase fálica.
Vários outros deixaram sua contribuição, entre eles podemos citar Bettelheim (1980) que defende uma interpretação psicossexual para os contos de fada. Para o autor os contos enfatizam as questões do ID, Ego e Superego, do bem e do mal e transmitem mensagens à mente consciente, à pré-consciente e a inconsciente.
Para ele é através das imagens que falam ao inconsciente que os processos infantis inconscientes se tornam claros para as crianças. Enquanto se desenvolve, a criança precisa aprender gradativamente a se entender melhor para poder entender os outros e assim estabelecer relações satisfatórias e significativas com os demais.
As crianças não compreendem os seus sentimentos pelo que eles são, apenas sentem e buscam verbalizá-los através de ações. Não há nada mais difícil e importante na criação das crianças que ajudá-la a encontrar significado na vida, e para que se possa encontrar este significado mais profundo necessita-se “transcender os limites estreitos de uma existência auto-centrada e acreditar que daremos uma contribuição significativa para a vida.” (op.cit.p.12).
Para que o conto possa atingir o inconsciente da criança precisa ser contado com riqueza de detalhes, caso contrário, perderá sua significação mais profunda. E se tentarmos explicar seus significados destruiremos seu encantamento e impossibilitaremos à criança de sentir que foi ela quem enfrentou com êxito uma situação difícil mediante suas interpretações interiores.
Uma boa história só cumpre seu papel quando estimula a imaginação, desenvolve o intelecto e clareia as emoções da criança. Apresentar um dilema existencial de forma breve e categórica, simplificar todas as situações, ter figuras esboçadas claramente e personagens que são mais típicos do que únicos, o mal ser tão onipresente quanto a virtude e se apresentarem sob forma de figuras e ações e o mal sempre perder no final são as características mais importantes dos contos de fada .
Nos contos de fada, as crianças lidam com diferentes problemas, um de cada vez, e isto facilita as mudanças na identificação do paciente com os personagens ou dos conflitos apresentados.
Identificar-se com um dos personagens leva a criança a projetar-se e vivenciar as experiências dele na sua própria história, e a garantia de um final feliz lhe assegura que qualquer que sejam suas descobertas sobre o seu inconsciente ela também poderá “viver feliz para sempre”.
Bettelheim (1980, p.23) coloca que para identificar qual história “é mais importante para uma criança específica numa idade específica depende inteiramente de seu estágio psicológico de desenvolvimento e dos problemas que mais a pressionam no momento.”
Numa outra abordagem teórica, a psicológica, o foco central das histórias está no senso do “eu”, nos aspectos da personalidade que prejudicam a ligação íntima da criança com outras pessoas, especialmente os pais. Nesta visão os contos são considerados como conflitos psicológicos ocultos. Eles se fundamentam nos sete pecados capitais da infância: a vaidade, a gula, a inveja, a luxúria, a hipocrisia, a avareza e a preguiça.
Para Cashdan (2000), que defende a perspectiva psicológica, os contos de fada são fonte de incomparável aventura e apresentam dramas sérios que refletem eventos que ocorrem no interior das crianças. São “psicodramas da infância”. (op.cit., p.33).
Para ele o valor duradouro dos contos se encontra “no poder de ajudar as crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo de crescimento”. (op.cit., p.25).
Algumas preocupações marcam a vida infantil como sua posição na família, o sentimento que se tem por ela e quanto dele é dispensado a ela e seus irmãos e o medo de serem abandonadas em conseqüência do que dizem ou fazem.
Cashdan coloca que boa parte dos acontecimentos do conto de fada espelha as lutas interiores que as crianças travam contra as forças do eu e estas forças enfraquecem a capacidade de manter relacionamentos significativos. Através destas histórias, as crianças “projetam inconscientemente parte delas mesmas em vários personagens usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu.” (op.cit., p.31).
Quando se apresenta o conto chamando sutilmente a atenção para o tema central as respostas podem se tornar mais significativas às perguntas dadas e quando explorado de maneira agradável pode auxiliar a resolver lutas interiores entre as forças do eu, forças negativas e positivas.
A criança precisa penetrar na história em um nível pessoal. O segredo do sucesso na terapia com as histórias se encontra no processo de identificação que deve ocorrer entre a criança, o personagem e os conflitos por ela enfrentados. Quando a criança chega à clínica psicopedagógica com dificuldades de expressar seus sentimentos, a história pode ser tornar uma saída para o paciente se reconciliar com os seus sentimentos e seus fracassos.
Cashdan (2000) diz que os eventos que formam um conto de fada acontecem em quatro etapas no caminho da descoberta.
1. Travessia – leva o herói a uma terra diferente, como floresta escura, poço e escadaria secreta, cheia de acontecimentos mágicos. A mensagem implícita está em que a pessoa precisa explorar, examinar, correr riscos para poder crescer.
2. Encontro – com uma presença maquiavélica. Força a criança a enfrentar tendências indesejáveis que possui. Enfrentar o mal torna-se um ato de auto-conhecimento.
3. Conquista – é a mais fundamental das quatro etapas, pois apresenta uma luta de vida e morte. Pela morte da bruxa a criança deixa de auto-recriminar, supera os conflitos internos e os aspectos negativos do eu são destruídos garantindo a superioridade dos aspectos positivos. “O eu é transformado, purificado levando a criança a se sentir mais auto-confiante e segura”.(op.cit.,56)
4. Celebração – casamento, reunião de família após a morte da bruxa com felicidade eterna. “De uma perspectiva de vantagem psicológica, um final feliz significa que as forças positivas do eu assumiram o comando.”(op.cit.56).
Os contos são considerados por Cashdan (2000, p.56) como “jornadas de triunfo e transformação.”
Bettelheim (1980, p.33) nos diz que “o conto de fada é terapêutico porque o paciente encontra sua própria solução através da contemplação do que a estória parece implicar acerca de seus conflitos internos neste momento da vida.”


3.2 – A Contribuição da História Bíblica como recurso terapêutico e arteterapêutico

A Bíblia é um conjunto de 66 livros escritos por vários autores que viveram em épocas diferentes e de profissões diversas. Nela encontram-se relatos históricos, poemas, cânticos, cartas de aconselhamento e código de leis e todos mantém uma unidade de pensamento em seus textos.
Néri (1996), ao falar sobre o universo das histórias bíblicas, estabelece comparações entre os contos de fada e os relatos bíblicos, tais como: ambos, em sua origem, não foram escritos para as crianças e por isto sua linguagem não lhes eram de fácil compreensão sofrendo adaptações posteriormente para atingir a mente infantil; apesar das alterações sofridas não perderam seus elementos essenciais e estruturais ; eram transmitidos de forma oral e despertam até os dias atuais grande interesse nas crianças. Para o autor, o maravilhoso existe nas histórias bíblicas, porém sua causalidade é atribuída a natureza divina, diferentemente do “fantástico” ou do “mágico” dos contos populares que é de origem sobrenatural. Dentro das histórias bíblicas encontram-se elementos simbólicos como a água, o rio, o mar, alguns animais, alimentos, os anjos, a arca, o fogo, o gigante, sonhos, entre vários outros. Néri analisa que apesar dos personagens bíblicos não apresentarem um único tipo ou arquétipos de comportamentos humanos como ocorrem nas narrativas maravilhosas, a maioria deles é reconhecido, identificado por um único traço de sua personalidade apesar de em suas histórias de vida apresentarem variações em seus comportamentos e atitudes. Tal caracterização dos personagens facilita o processo de identificação do ouvinte com o personagem.
Como exemplo, Néri cita Noé caracterizado pela paciência, Davi pela coragem e força interior, José pela fidelidade, Moisés pela liderança, Sansão pela força, entre outros.
Em tais histórias pode-se identificar temas como superação, cooperação, aceitação, inclusão, perdas, abandono, reconquista, adoção, missão, liderança, rejeição, luta, esperança, auto-confiança, medo, angústia, intimidação, coragem e vitória.
Os textos bíblicos são ricos em símbolos e trazem também uma linguagem simbólica que podem atuar no consciente e inconsciente de cada pessoa que a escuta, assim como os contos de fada.
Bettelheim (1980, p.22) nos diz que
(...)muitas histórias bíblicas são da mesma natureza que os contos de fada. As associações conscientes e inconscientes que despertam na mente do ouvinte depende de seu esquema geral de referências e de suas preocupações pessoais. Daí as pessoas religiosas encontrarem neles coisas importantes que não são mencionadas aqui.
Com a exceção de que Deus é central, muitas histórias da Bíblia podem ser reconhecidas como similares a contos de fada. (op.cit, p.67).

O autor comenta que os contos também trazem temas religiosos, pois foram escritos num período em que a vida das pessoas estava fundamentada na religião, e os considera como obra de arte porque possuem vários aspectos possíveis de serem explorados no aspecto psicológico.
Guttmam (2004), comenta que as histórias judaicas, sendo elas baseadas na Bíblia, são utilizadas para favorecer o crescimento espiritual de quem as escuta, ajudando na elaboração de suas vidas. Para ela, o terapêutico de uma história pode ocorrer ao ouvir, ao ler,ao contar e ao criar.
Assim como nossa vida emocional pode ser expressa por mitos antigos ou contos de fadas, no judaísmo as histórias bíblicas fazem que as pessoas ampliem sua visão de si mesma e do mundo... E, muitas vezes, quando escutamos determinadas histórias em momentos nos quais estamos abertos a elas, temos a sensação de que alguma percepção aconteceu e algo se transformou.(op.cit.,p. 259).

Os textos bíblicos a muito têm sido utilizados na clínica terapêutica e analisados à luz da psicanálise. Dolto (1979), discípula de Lacan, em sua prática clínica, também fez uso da arte como meio de comunicação com seus pacientes e de textos bíblicos no processo terapêutico.
Eles têm um poder muito mais surpreendente. Há dois mil anos eles são lidos e produzem sempre um efeito de verdade no íntimo de todo aquele que os lê.
Confesso que estou em busca das fontes dessa verdade. Sejam eles históricos ou não, esses textos são uma torrente fantástica de sublimação dos impulsos. Escritos com tal poder de penetração não podem ser negligenciados. Eles merecem que, formados pela Psicanálise, pesquisemos essa dinâmica, cuja chave deixam subentender.
(...) A leitura dos Evangelhos, repito, produz inicialmente um choque em minha subjetividade; depois, em contato com esses textos, descubro que Jesus ensina o desejo e nos seduz.
Descubro que esses textos de dois mil anos atrás não estão em contradição com o inconsciente dos homens de hoje em dia.
(...) O que leio nos Evangelhos, do ponto de vista da Psicanálise, parecer ser a confirmação, a ilustração dessa dinâmica viva, operando no psiquismo humano e de sua força que vem o inconsciente, aí onde o desejo nasce, de onde parte em busca daquilo que lhe falta.
(...) Coisa alguma da mensagem de Cristo estava em contradição com as descobertas freudianas. Sem hesitar decidi levar adiante essa leitura.
A vida, o efeito de verdade sempre nova que a convivência com os Evangelhos engendram no coração e na inteligência são um apelo renovado diariamente para que ultrapassemos nossos processos lógicos conscientes. São as mesmas palavras e estas parecem revelar um sentido novo, na medida em que avançamos em nosso tempo, no decurso de nossas experiências. (op. cit., p.12 e 14).

Simões (2008), em sua atuação como fonoaudióloga , psicopedagoga e psicanalista, passou a utilizar no processo terapêutico de seus pacientes, as histórias bíblicas, associadas as técnicas arteterapêuticas, como instrumento de mediação para o processo de identificação do paciente com a história, nos quais os personagens se faziam porta-vozes de seus conflitos e desejos e auxiliavam o paciente em seu auto-conhecimento, de forma agradável e poética. Fundamentou-se em Dolto (1979 e 1981), que em seu livro O Evangelho à Luz da Psicanálise relata sua experiência clínica com textos bíblicos e também estabelece uma relação com os contos de fada:
(... ) Ao ler os Evangelhos, eu descubro um psicodrama. As próprias palavras com que são narrados, a seleção das frases, a escolha de certos temas podem ser compreendidos, repito, de uma outra maneira, a partir da descoberta do inconsciente e de suas leis, por Freud.
Eles têm um poder muito mais surpreendente. Há dois mil anos eles são lidos e produzem sempre um efeito de verdade no íntimo de todo aquele que os lê.
Confesso que estou em busca das fontes dessa verdade. Sejam eles históricos ou não, esses textos são uma torrente fantástica de sublimação dos impulsos. Escritos com tal poder de penetração não podem ser negligenciados. Eles merecem que, formados pela Psicanálise, pesquisemos essa dinâmica, cuja chave deixam subentender.
[...] A leitura dos Evangelhos, repito, produz inicialmente um choque em minha subjetividade; depois, em contato com esses textos, descubro que Jesus ensina o desejo e nos seduz.
Descubro que esses textos de dois mil anos atrás não estão em contradição com o inconsciente dos homens de hoje em dia.
[...] O que leio nos Evangelhos, do ponto de vista da Psicanálise, parecer ser a confirmação, a ilustração dessa dinâmica viva, operando no psiquismo humano e de sua força que vem o inconsciente, aí onde o desejo nasce, de onde parte em busca daquilo que lhe falta.
[...] Coisa alguma da mensagem de Cristo estava em contradição com as descobertas freudianas. Sem hesitar decidi levar adiante essa leitura.
A vida, o efeito de verdade sempre nova que a convivência com os Evangelhos engendram no coração e na inteligência são um apelo renovado diariamente para que ultrapassemos nossos processos lógicos conscientes. São as mesmas palavras e estas parecem revelar um sentido novo, na medida em que avançamos em nosso tempo, no decurso de nossas experiências. (op. cit., 1979, p.12 e 14).

Edinger (1990), psicanalista, discípulo de Jung, diz que o homem tem necessidade desvendar os mistérios da alma naquilo que ele produz e que a Bíblia ocupa lugar proeminente nessa busca.
Os eventos da Bíblia, embora apresentados como história, são psicologicamente compreendidos como imagens arquétipas, isto é, como eventos pleromáticos que repetidamente irrompem na dimensão espácio-temporal e requerem um ego individual para poderem sobreviver. Quando lemos essas estórias com abertura para suas reverberações inconscientes, nós as reconhecemos como importantes para a nossa própria experiência. (op. cit., p.35).

Na busca de referenciar o tema abordado, por meio de diversos autores, percebe-se que as histórias bíblicas através de seus personagens e conteúdos manifestos podem atuar na vida de seus ouvintes, em especial daqueles que estão abertos para elas, como mediadoras no processo de transformação, de auto-conhecimento, de cura e de fortalecimento do potencial criativo ao promover o encontro do paciente consigo mesmo, assim como a Arteterapia. Conclui-se então, que ela pode ser um instrumento terapêutico não só pelo ouvir, como também pelo contar.

REFERÊNCIAS



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ALESSANDRINI, C. D. Oficina Criativa e Psicopedagógica, São Paulo, Casa do Psicólogo, 1996.
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ANDION, M. T. M. O Jogo de Areia à Luz da Teoria Piagetiana: Uma Estratégia de Intervenção Psicopedagógica. Revista Direcional Educador – ano 4, edição 43, Prol Gráfica, São Paulo, 2008.
ANDRADE, M. S Psicopedagogia Clínica, Manual de Aplicação Prática para Diagnóstico de Distúrbios do Aprendizado. São Paulo: Póluss Editorial,1998.
ARRAIS, D. e CARPEGGIANI, S. Freud ainda explica. Jornal do Comércio. Recife, 2006 - http://jc.uol.com.br/jornal/2006/05/06/not_182909.php
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981.
BARBOSA, A. M. A Imagem no Ensino da Arte, 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fada, Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1980.
BLEICHMAR, S. A Fundação do Inconsciente: destinos da pulsão, destinos do sujeito. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995
BÍBLIA SAGRADA. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
CAMARGO, M. e SAVICKI, L. Aplicação Psicopedagógica da História de José do Egito. – Trabalho apresentado no curso de Psicopedagogia no módulo de Tratamento. V. Grande Paulista, Faculdades Hoyler, 2003.
CASHDAN, S. Os 7 Pecados Capitais nos Contos de Fadas: Como os Contos de Fadas Influenciam nossas Vidas. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
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A LINGUAGEM SIMBÓLICA DOS CONTOS E DAS HISTÓRIAS BÍBLICAS de Rosilene Fatima Vieira Lopes é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.




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